A ME REVELAR
Vivo de inventar situações e de simular a vida,
num recriar contínuo de tudo ao meu gosto e gesto,
Talvez me falte coragem para a verdade,
ou talvez me sobre música por dentro.
Inteiramente falso e real é o mundo que crio
e que escoro com palavras e sons.
Participo anônimo da conversa surda do mundo.
Jogo meus confetes por aqui e ali,
adentro carnavais alheios e espio a farra.
Me molho na água de rios passados.
Hoje sou outro homem, diferente de ontem,
e acordo cheio de sinais, marcas e estigmas,
lembranças que me instigam e me dão saudades
de um tempo remoto que não vivi.
Não sei se sou farto de sonhos e esperança
ou se ando entrando de fato na vida.
Me sinto meio mico de circo - me revelo.
Meio leão dourado - me escondo.
Quero a glória, mas não dou desconto a ninguém.
Sou um oco de incertezas. Impreciso
quero determinar caminhos,
impor metas, recolher os frutos que plantei.
Quem eu acredito que sou é diferente daquele que se revela.
Minha vida externa - monótona, pacífica...
Minha vida interna - uma guerra infinda, uma novela, trama e mistério.
Inverter, botar tudo pra fora é uma meta,
uma ânsia eterna que esbarra na velha previdência.
Sinal de alerta!
Está não é uma possibilidade improvável.
De pára-quedas nas costas é sempre previdente.
Fico me definindo para esconder a essência
ou para revelar a escondida demência,
que no escuro se revela e quer a luz.
Saltar de banda, dançar o frevo, viver um fado...
Talvez, no máximo, fazer uma canção popular.
cp-araujo@uol.com.br