O Vigia
Face a face com o senhor de todos os destinos
Vagaroso paginar de tantas vivências
As ventosas de sua língua rasgam-me a pele
Natureza humana envolta em miasmas de hidra
Quando nada mais que o solitário canto oferece-nos belo pássaro,
Cá deparamos soberba em sobejo, o incriado em revolta
Maquinações em torno de auricerúleo brilho
Minam os últimos gritos de telúrica força
Mas eis que desabam os palcos da eloquência
E chega-nos enfim a mensagem dos mudos observadores
Irrompendo acima da nuvem negra das mentiras
O supremo vigia revela os ecos da eternidade
Em noites de tempos idos, mil guerreiros cavalgaram sob a lua
O sangue era sua bandeira, o medo, seu arauto
Barricadas e muralhas erguidas, sem tempo para escolhas
O sopro da vida a escapar em eras desprovidas de tentações
Mas as rodas do destino vastos vapores atravessam
E se você fosse capaz de lembrar todos os nomes
Talvez pudesse se aproximar dos limites da metamorfose
Cercando os encantos perdidos nas fogueiras do tempo
Agora a melodia da criação ensurdece os arquitetos da noite
E os olhos de Judas escurecem o rio de Narciso,
Rasteja-se o desejo em tentáculos de quimera
Revelando-nos quão melhor julgou ser Fausto que Mefistófeles