A VÊNUS-MEDUSA-PLATINADA

Quem sabe chegue o dia

- sabe-se lá

(nem Deus sabe direito) -

que as cobras cativem asas;

saiam revoltas das suas valas

e voem de volta pr'as baias

da minha boca

que por lá pousem inconformadas

com suas línguas bífidas e desvairadas

de najas loucas

que semeiem o rebento da

vênus-medusa-platinada,

a deusa radical, a diva incorrupta

a coroar-me

de serpejantes cabeças aladas.

Quem sabe chegue o dia...

Que essa deusa tremulará

Nas linhas da minha folha

Livre e solta; pérfida e insaciada.

- Ave, Minha Sacratíssima...

aconteça-me, Sua Diviníssima Peçonhenta

das severas e fatais picadas!