Des-VIVE-endo…TAMBÉM DE PONTA-CABEÇA
Posso.... Vens comigo?
Posso tudo o que me permitir as asas do meu pensamento...
E ele ao vento... Longe vai... Longe.
E conserta o que deveria ter início e era fim...
E pois que não haveria fim.
E inicio minha vida de trás... Lá de trás...
Nascemos juntos...
O mais junto que duas almas possam, em sua desvivência... Existir.
Nascemos enrugados e sábios... Deveras sábios.
Construímos tudo o que sabemos e sentimos juntos...
Entrelaçadamente juntos... Únicos... Fundidos.
Cabelos alvos como a paz que sentimos e exalamos...
Em teus olhos... Lindos...
O mesmo olhar... O mesmo tom cor de sonhos...
Todos sonhados comigo.
E é só o tempo...
Sim... Estamos juntos há algum tempo antes deste tempo...
Desvivemos... Nascemos.
E agora temos um filho... E este filho tem filhos...
Lindos filhos nossos.... Filhos do nosso amor.
Amor que encontra-se no âmago da sua essência... Todo pleno - vida!
Nascemos sábios...
Das coisas que aprendemos em nosso longo caminhar ao inverso...
Nascí das coisas que aprendí com a vida - morte - antes da vida.
Das coisas que aprendí contigo, meu grande amor.
O tempo passa...
Minha pele mais viçosa... E a tua.
Nossos beijos... Mais ardentes e viscerais...
Silêncio... A juventude nos toma!
Voltamos a aquecer a nossa cama... E a empobrecer a nossa alma.
Retornamos aos sentimentos menores que antes... Ou depois.
Involuímos... Murchamos ao avesso.
Nosso filho desvive, amor...
Torna-se cada dia menos ele... E mais nós dois.
O tempo passa, amor....
Desfaz-se.... Mas nao me deixes...
Vejo-te cada dia mais jovem...
Minha face... Onde estou?
Estás tão belo...
Mas já nao tão belo quanto eras lá atrás...
Quando juntos nascemos... Ou devivemos...
Estamos agora a ficar menos sábios...
Estou aflita, amor....
Que caminho é este?
Voltamos a questionar sobre deus e sobre a vida daquela forma, lembras?
Voltamos a ficar ansiosos... Diminuimos nossa fé...
O que acontece?
Nosso filho, amor...
Sulga-me e alimenta-se no meu peito que está a secar...
Olho-o... Lindo...!!
Olha… Tanta coisa nossa que nele há...
Hão de dissipar-se... Nao quero!
Acordas-me!!
Percebes?... Sinto a presença dos nossos irmãos novamente...
Desvivem conosco, amor...
O tempo passa....
Nosso filho em meu ventre agora se encontra...
Indefeso... Dependente em absoluto.
Vem... Põe tua mão ansiosa...
Ele está a retornar da vida para cá.
Nao choras, amor... Dá-me tua mão.
Nao me largas nunca... Não me esqueces...
Minh'alma invade-se de tristeza e saudades...
Saudades de nao sei o que... Nao lembro-me bem...
Vês?
Nao há mais nosso fruto em meu ventre.
Regresou, amor.... Regressou.
Só há apenas eu e tu... E este amor profano e latente...
Tantas incertezas... Juras eternas...
Momentos loucos só meus e teus... Segredos nossos.
Segura-me, amor... Prenda-me a ti... Perdoa-me...
Guardas ao menos o meu cheiro em tua memória...
É tão cedo... Nao vás...
Ah... Te procuro tanto... Existes?
Vens tirar-me deste desejo de morte...
Te procuro e credito tua existência.
Existes em meus sonhos....
Em meus livros que leio...
Em meus devaneios utópicos...
Em minhas orações a deus não envelhecer tão seca e solitária....
Envelhecer?
Estou vazia... Já nem quero chegar a envelhecer...
Pensar nisto causa-me dor... Desespero.
O tempo passa...
Sobre o que eu estava mesmo a falar?
Que tal se lermos daqui para cima... Hei de lembrar.
Karla Mello
julho/2010