Ser o outro

Não se apressem a responder

as perguntas

Não se apressem a sanar

as dúvidas

Pois estas permanecerão

São mais eternas que os homens

Mais perenes que os sentimentos,

Que todas as lembranças ou memórias

Diante das perguntas

Há um segundo de silêncio e de inquietação

Há angústia plasmada na saliva

Que lubrifica a palavra

Que recheia a boca e a digestão

Não se apressem a ter o que dizer

O que sentir,

O que fazer ...

Pois os discursos, as emoções e os atos

São finitos, limitados, circunstanciados,

Paridos e premidos pelo momento,

Pela genética, pelo inconsciente

Que traiçoeiro

Deixa você responder

Aquilo que jamais pensou

Cogitou, ou revelou diante do imenso

abismo que existe entre dois seres.

O intransponível lugar do outro.

Ser o outro é a única maneira

de dar a resposta

exata.

Na proporção e na ótica correta…

Ser o outro, sem abandonar-se ou renegar-se

Ser o outro por alteridade e compaixão.

Ser o outro apenas para impedir que o silêncio

Mumifique o eterno.

Ou que transforme toda consciência em pó.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 11/09/2011
Código do texto: T3213307
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