Ser o outro
Não se apressem a responder
as perguntas
Não se apressem a sanar
as dúvidas
Pois estas permanecerão
São mais eternas que os homens
Mais perenes que os sentimentos,
Que todas as lembranças ou memórias
Diante das perguntas
Há um segundo de silêncio e de inquietação
Há angústia plasmada na saliva
Que lubrifica a palavra
Que recheia a boca e a digestão
Não se apressem a ter o que dizer
O que sentir,
O que fazer ...
Pois os discursos, as emoções e os atos
São finitos, limitados, circunstanciados,
Paridos e premidos pelo momento,
Pela genética, pelo inconsciente
Que traiçoeiro
Deixa você responder
Aquilo que jamais pensou
Cogitou, ou revelou diante do imenso
abismo que existe entre dois seres.
O intransponível lugar do outro.
Ser o outro é a única maneira
de dar a resposta
exata.
Na proporção e na ótica correta…
Ser o outro, sem abandonar-se ou renegar-se
Ser o outro por alteridade e compaixão.
Ser o outro apenas para impedir que o silêncio
Mumifique o eterno.
Ou que transforme toda consciência em pó.