ANJO DA VERDADE

Desarmado começas tuas armadilhas

Dias sem presilhas

Aprisionadas Ilhas

Vida corpos em contornos

Sem escovas cromossomos

Boca de forno estorno

Tantos duendes vivem na gente

Olho no jardim

Só vejo serpente

Nada além dos verdes ciprestes

Há que se vestir de alguma roupa que se preste...

É gente diz o Serafim

Eu o olho de frente

E lhe pergunto

Se formos mesmo feitos de barro

Estamos num atoleiro tipo purgatório?

Ele ri me amealho

Pego um alho

Estraçalho

Pra testá-lo

Ele me olha

E diz que sou agasalho

Não me contenho e grito

Quem eu sou?

Ele bizarro não grita

Diz que sou parte do orvalho

Em que muita gente pisa

Por isso não vôo

Não tenho asas

Sobrevôo apenas a cabeça de cabelo grisalho

Da crosta terrestre sou atalho

E que muitos outros como baralho

Também como penso que fui sou embaralhado

Como retalho no chão me embaralho

Estrela caída na praia cor da areia nada valho

Amoldam-se pelo caminho dos pés

Por isso não voamos

Nossas asas estão presas ao barro

Até outros pisarem

Até outros modelarem-nos

Como vinhas pisoteadas no carvalho

Não há asas

Não há socorro

Por isso se matamos

Por isso se morremos

Deus se distanciou

E estamos nesta prisão

Alegre e tristes

Em reconciliação

Enquanto houver ódio no coração

Enquanto a alegria das asas ciliares

Não viverem os segundos que a vida

Concede-nos estaremos densos

Pesados nesta estação

A morte é a purgação a negação

A vida é alegria no coração

Não uma alegoria da alma

Temos um peso nas asas

Chamada de grilhão

Estamos nela atrelados

Travados pelos anos e pela idade

E os senhores do carma

Chamam-na de gravidade

Eis a verdade disse o anjo!