O BACANAL DO FURACÃO
Sobre o mar insaciável
o vento precipita-se com a agonia
dos desesperados
fazendo as ondas correrem pra areia,
com a gula do livre que esperneia
no pavor dos condenados.
As águas sacodem o oceano delirante
e suspendem a cortina
desse palco itinerante.
Com mórbido desejo,
seu cúmplice a dilata em parceria.
Curioso, no afã medroso,
por entre as nuvens o sol voyeur espia.
Rasgando o seio da flora ingênua
o híbrido vento a deflora;
Deita a Natureza no chão
e introduz-se inteiro com tesão;
rompe-lhe o ventre matutino,
Lambe com sua enorme lígua, o indigno,
Dissolvendo a boca escancarada
da frágil e Tênue madrugada.
Cala a noite de grito ignóbil com um beijo fatal,
e ela entrega-se dolente ao sacrifício final.
O pudor desvirginado da tarde, arde.
Desmaiada em seus braços febris
não percebe ao seu redor os ardis
e se mistura o dia, nessa estranha orgia.
Penetrando o seu vigor no refletido
e irreverente senhor
chega ao ápice o ato de luxúria
compactuado e acentuado pela fúria.
Gemem os arvoredos,
que no sabor do lúgrube enredo
Rompem com intrépidas carícias
as suas vértices de delícias.
Enlouquecido de prazer,
o cruel carrasco destrói e atira
aos ares os restos dos lugares,
para que não sobre testemunhas
que plateiaram o seu terror;
pois, nesse momento de total
envolvimento ele é Deus,
ele não é apenas só um vento
Suspirando e saboreando
as lascivas que deixou.
Acabou...
Vai feliz o destemido furacão buscar
outra vítima para satisfazer sua paixão.
Desce a noite negra, como
a viúva da Natureza corrompida;
Carinhosamente a envolve com seu manto
em copiosas lágrimas doloridas;
Assim desaba o choro do
amargor por sobre a Terra;
Tudo é silêncio e mormente
nem a fauna desespera,
porque já nada mais existe...
só a flacidez de um céu conivente e triste.