O ÚLTIMO BAR
Ânsia no peito me passa,
Sei que isso não é bom,
Uma porta se arregaça
Vem me abraçar o garçom.
Não tem jeito – só mais uma!
Minto que é falta de sono,
Peço vir-me com espuma
Servida pelo seu dono.
Lá eu resolvo e aconteço,
Desculpo e sou desculpado,
Não tem aumento no preço
Por mais um copo quebrado.
Esse que custa tão caro
No lar, sem uma razão,
E quer-se fazer reparo
Juntando cacos no chão.
Vazios, os copos e rostos,
Evaporam mal em tudo
Pelas dores e desgostos
Na perda do conteúdo.
Mas quem se atreve a negar
O convite duma porta
Gentil se abrindo, de um bar
Que a mil amigos conforta?
São mais felizes os dias,
Tirando o dor de cabeça,
Vindos das noites vadias
Se a sua casa anda avessa.
Faço desse calabouço
Altar e confessionário,
Os mesmos lamentos ouço;
Contas dum mesmo rosário.