O ÚLTIMO BAR

Ânsia no peito me passa,

Sei que isso não é bom,

Uma porta se arregaça

Vem me abraçar o garçom.

Não tem jeito – só mais uma!

Minto que é falta de sono,

Peço vir-me com espuma

Servida pelo seu dono.

Lá eu resolvo e aconteço,

Desculpo e sou desculpado,

Não tem aumento no preço

Por mais um copo quebrado.

Esse que custa tão caro

No lar, sem uma razão,

E quer-se fazer reparo

Juntando cacos no chão.

Vazios, os copos e rostos,

Evaporam mal em tudo

Pelas dores e desgostos

Na perda do conteúdo.

Mas quem se atreve a negar

O convite duma porta

Gentil se abrindo, de um bar

Que a mil amigos conforta?

São mais felizes os dias,

Tirando o dor de cabeça,

Vindos das noites vadias

Se a sua casa anda avessa.

Faço desse calabouço

Altar e confessionário,

Os mesmos lamentos ouço;

Contas dum mesmo rosário.

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 15/08/2011
Reeditado em 16/08/2011
Código do texto: T3161129