Cílios
Curvaram-se estáticos.
Estavam mortos,
estavam frios.
O mundo dissipava-se
aos arredores da capela
um amontoado de fios.
Ele, de esguelha os observava.
Eles observavam a sombra dos seus olhos,
enormes cílios, a abrir e fechar grandes olhos.
E aqueles olhos, o que eram eles?
Não se sabia, pois nada viam.
Era apenas uma incógnita
do que era aquilo, do que seria.
Ele sabia que estavam mortos,
estavam mortos e estavam frios.
E suas mãos entrelaçadas
selavam-se, coladas, ao eterno silêncio
de almas pequenas.
Os cílios abriam as imagens mortas
e fechavam as que nasciam.
Os olhos observavam aquilo com ternura,
apenas mais um fio a dissipar
envolto de memórias póstumas
de clima frio...