ÁGUAS SEPULCRAIS
Mar bravio,
Tempestade intensa,
Ventos descontrolados,
Furacão não cessado.
As ondas se elevam
Atrozes avassalando a embarcação.
O timoneiro brada desesperado,
Tudo vão.
A fúria do mar segue
Feito comparsa do horizonte caliginoso
Sem dar perdão ao brigue
Desnorteado, sem rumo
No meio do turbilhão.
A estibordo zanzando o primeiro imediato
Chama a atenção
De todos seus subalternos
Que descem o mastro da embarcação.
Solene, o capitão
Dá ordens à tripulação
De se retirar aos aposentos
Pois não há mais salvação.
O valente navio prossegue – condenado
Catastroficamente varrido pelo vagalhão.
A escuma das águas se refaz
E envolve o casco relutante.
Numa crescente as trevas dominam tudo,
Se faz geral desolação.
Só na cabine
Fantasmal na penumbra
O experiente capitão
Cessa a luta,
Sucumbe em queda no chão
Morrendo digno.
No convés os tripulantes
Contemplando a imensidão,
Acesos seus lampiões,
Candente cada coração,
Na proa o segundo imediato
Inerte, sem reação
Lançado ao mar é pelos ventos,
Afogado, expirando em estupor.
Com a delongada
Da inefável tempestade
Homens fortes, marinheiros pujantes
São dobrados pelo medo.
Delirantes, aterrorizados,
Imaginam silhuetas espectrais
Deslizando no assoalho molhado
Bailando com os etésios;
Enxergam seres horrendos
Revoando nos ares ante seus olhos
E de repente então a bombordo
Mais um subalterno da declinante nau
É engolido pelas ondas macabras
Que outrora foram marulhos,
Também esses homens outrora eram outros.
No espetáculo a seguir o casco é estilhaçado,
E a tripulação toda sepultada pelas águas morgues,
Enlouquecidas e violentas, derradeiro momento
De pavor indigesto no mar peregrino
Dentro do espetáculo terrífico e sepulcral.