ÁGUAS SEPULCRAIS

Mar bravio,

Tempestade intensa,

Ventos descontrolados,

Furacão não cessado.

As ondas se elevam

Atrozes avassalando a embarcação.

O timoneiro brada desesperado,

Tudo vão.

A fúria do mar segue

Feito comparsa do horizonte caliginoso

Sem dar perdão ao brigue

Desnorteado, sem rumo

No meio do turbilhão.

A estibordo zanzando o primeiro imediato

Chama a atenção

De todos seus subalternos

Que descem o mastro da embarcação.

Solene, o capitão

Dá ordens à tripulação

De se retirar aos aposentos

Pois não há mais salvação.

O valente navio prossegue – condenado

Catastroficamente varrido pelo vagalhão.

A escuma das águas se refaz

E envolve o casco relutante.

Numa crescente as trevas dominam tudo,

Se faz geral desolação.

Só na cabine

Fantasmal na penumbra

O experiente capitão

Cessa a luta,

Sucumbe em queda no chão

Morrendo digno.

No convés os tripulantes

Contemplando a imensidão,

Acesos seus lampiões,

Candente cada coração,

Na proa o segundo imediato

Inerte, sem reação

Lançado ao mar é pelos ventos,

Afogado, expirando em estupor.

Com a delongada

Da inefável tempestade

Homens fortes, marinheiros pujantes

São dobrados pelo medo.

Delirantes, aterrorizados,

Imaginam silhuetas espectrais

Deslizando no assoalho molhado

Bailando com os etésios;

Enxergam seres horrendos

Revoando nos ares ante seus olhos

E de repente então a bombordo

Mais um subalterno da declinante nau

É engolido pelas ondas macabras

Que outrora foram marulhos,

Também esses homens outrora eram outros.

No espetáculo a seguir o casco é estilhaçado,

E a tripulação toda sepultada pelas águas morgues,

Enlouquecidas e violentas, derradeiro momento

De pavor indigesto no mar peregrino

Dentro do espetáculo terrífico e sepulcral.

Sátiro Safo
Enviado por Sátiro Safo em 03/08/2011
Código do texto: T3138058
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