DOR AZUL

Permito a dor azul, riscada à esferográfica

Manchando de emoção, o branco do papel

Soluço desenhado, em abc formal

Canalizado às custas, de minha vã dialética...

Às favas mandaria, senhores do meu mal

E palavrões sem fim, urrava num tropel

Diriam desta dor que avinagrou meu mel

Anuviou meu céu, cegou minha visão...

Meu céu de fantasia, agora confiscado

Repleto de urubus e feras assassinas

Serpentes que mordiscam, até seu próprio rabo

Feras das mais ferinas, mil aves de rapina...

Morrentes, desmaiadas, carniça predileta

A atrair na sanha, os canibais sentidos

Por ser azul é certo, se faz doce e seleta

A minha dor rezada, é isca tão patética.

Aplausos, ó quem dera, fosse bondosa paga

Mas corte de adaga, no meu tendão de Aquiles...

Meu asco se deflagra e estanco o meu deslize

Contenho-me de mais, me entranho em reticência.

Se dor em tal demência, razão extrapolada

Silenciosamente, anulo essa rasura

No branco do meu nada, notória captura

Do mal que me desola, no branco revelada.

ANA MARIA GAZZANEO
Enviado por ANA MARIA GAZZANEO em 31/07/2011
Código do texto: T3130385