AS COISAS QUE NÃO EXISTEM SÃO MAIS BONITAS
" As coisas que não existem
são mais bonitas
- Felisdônio "
(Ao mestre da
beleza do inexistente:
Manoel de Barros)
Caço o inexistente.
Encontro uns poucos indícios
no lusco-fusco da sonoite
e no esparrame dos borrões de tinta
sobre a papa do papel de arroz - meras pegadas.
Persigo-o num laço de fumaça de cigarro.
Ele desentoca e sorri. Em seguida, pluft, pisga-se
deixando-me um real fedor de nicotina...
Juro que o pressenti no cavado d’uma concha
mas o danado fugiu esgueirando-se pela maresia.
Bem que deixou a prova oca do seu (do meu?) vazio.
Tem mais:
Quem quiser vê-lo, o achará incrustado
aos nós retortos das madeiras
(cuidado que ele escapa à nitidez da mente
ao mal piscarmos os olhos...)
Pois há quem,
depois de tantas provas,
ainda me pergunta:
- E pode existir mesmo
o que não existe?
Eu (de cátedra):
- Sim. Existe sem dúvida.
Existe e já nasce inexistente.