POEMA DE UM LOUCO ?
O gauche se perturbou,
ora parece sábio,
ora parece atoleimado,
caminha arredondando as estradas,
põe estrelas débeis na abóbada do nada
e segue, segue ditando leis no caos.
O gauche se perturbou.
Canta em Paris uma ópera italiana,
dança um tango na corte inglesa,
degusta sapos com milionários.
O gauche se perturbou.
Pensa poder matar javalis a socos,
arranca penas de pavões e as enfia em corvos,
dormita ao lado de leopardos famintos.
O gauche se perturbou.
Vãs são suas promessas,
capciosos são seus intentos,
fogo e enxofre queimam-lhe os neurônios.
O gauche se perturbou.
Entra e sai de cômodos com gás lacrimogênio,
reproduz sensações secretas,
inventa sentimentos que só ele experimenta.
O gauche se perturbou.
De perto ou de longe é sempre um enigma,
o dia do gauche reflete ele mesmo,
como um almíscar, reforça nossas ilusões.
O gauche se perturbou.