O CORTE NO PÉ SUJA O CHÃO

O corte no pé suja o chão

solo sagrado

água vermelha, carmesim

sangue da horta

bronze da orla

tarde da noite

filme ruim

um passeio ao sol

com manchas de sangue

passos trocados

dentes que batem

cães que mordem

panos quentes na testa

para conter a febre terçã

tardes de domingo

cerveja em família

risos de álcool

relacionamento elástico

uns lava-pés sem rosto

na cadeira de balanço

umas imagens de santo

umas máscaras no rosto

fogo falso na tela

o sol forte quase dorme

na mente dos entes de cá

é sonho de guerra santa

distância sem esperança

água poluída na fonte

gosto de sangue na boca

o chão suja o pé, sangue novo

na areia branca da beira-rio

as águas correm vermelhas

às vezes beijam as teias

das aranhas no lençol de dormir

o corte no pé, o chão sujo

o resmungo no ninho do maribondo

na véspera do sonho eterno

rasgada a renda, prenda minha

a lua se engalfinha com o sol

o tempo morre... em fogo brando...

o corte no pé suja o chão.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 08/06/2011
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