O CORTE NO PÉ SUJA O CHÃO
O corte no pé suja o chão
solo sagrado
água vermelha, carmesim
sangue da horta
bronze da orla
tarde da noite
filme ruim
um passeio ao sol
com manchas de sangue
passos trocados
dentes que batem
cães que mordem
panos quentes na testa
para conter a febre terçã
tardes de domingo
cerveja em família
risos de álcool
relacionamento elástico
uns lava-pés sem rosto
na cadeira de balanço
umas imagens de santo
umas máscaras no rosto
fogo falso na tela
o sol forte quase dorme
na mente dos entes de cá
é sonho de guerra santa
distância sem esperança
água poluída na fonte
gosto de sangue na boca
o chão suja o pé, sangue novo
na areia branca da beira-rio
as águas correm vermelhas
às vezes beijam as teias
das aranhas no lençol de dormir
o corte no pé, o chão sujo
o resmungo no ninho do maribondo
na véspera do sonho eterno
rasgada a renda, prenda minha
a lua se engalfinha com o sol
o tempo morre... em fogo brando...
o corte no pé suja o chão.