PARAMENTOS DE TOCAIA
P A R A M E N T O S D E T O C A I A
O porvir não é pressentido
Nunca requer clangor: ouve...
No início andavas em bando
Farejo tuas obras do bem
Sinta o vento que abala a flor
É forte o descontentamento desta
Deixa-lhe sulcos como atrozes unhadas
Ainda que presa na terra do campo
É livre no seu império vital
A flor e o vento brigam, mas são amigos
Nós não brigamos nem somos amigos
Como tal qual a flor, a ti provi um canto
Eterno, banal, entaipado endossa a morte
Sorte do sol que a rutila: você ou a flor?
Amadurece a natureza e faz fado da poesia
Tu assinas a causa do tempo
Cuida em ficar alarmada à menção da espada
Propicia em saldar a lei por igual
A todos cativas a te servir
Destampa-te os olhos viventes e negros
Ao primeiro sinal corre contente
Dispa-te na matina em langor
Com voz alheia despede ao meio-dia
Desponta vincos na face
Atrai à pele sedimentos
Escorre e escapa líquidos ácidos
Sagra-te um prodígio
Entre a gente é tão contrária a ti mesma
Agora entendo sua apatia
Nem sempre bastam riquezas
Antes espigam paramentos de tocaia
Embutido por dentro está teu esporão
Quem cabe armar o andaime?
Por que o aço do poder?
(novembro/1991)