QUERELA
Afoguei minha alma num dia nublado de novembro
Pela janela do prédio
Os sons dos motores convidavam meu corpo a partir
Era preciso ser rápido
Para não ser tragado pelo inferno das campainhas,
Buzinas, gritos do cotidiano
Nesse dia eu queria fazer as pazes com a vida
Foi quando percebi
Minha alma também era concreto
E se confundia com as paredes do meu quarto
Fiquei sem chão
Pois como pode haver poesia
Se não sinto o sublime da vida
Meus versos estavam sem gosto
Pálidos
E eu nem tinha palavras pra terminar o que comecei
Enquanto as indagações me martirizavam
Minha alma sofrida agonizava
Suplicava outra chance
Mas eu estava resoluta
Olhei para o relógio
Estava atrasada
Havia um compromisso menos importante
Mas fácil
Que alma densa essa minha!
E dura de morrer
Preferi sair assim
Nenhuma palavra mais
Talvez um dia a gente se entenda.