Percalço

Era eu cotovia

Grasnando

Levada pelo açoite do corpo

Cujos braços pareciam asas

Rindo como água que se escorre

Sem medo.

E o abraço espontâneo

Mormente em afagos

Pés marcados no chão do tempo

Foi tudo o que fui

Mais não podia

Mais não cabia

Mais agora é vão arquitetar

Dedos cansados.

Era eu do outro lado

Dizendo saudades

Lembrando amor que não vinha

Secando ao desfolhar de um tempo

Que nem de árvore se fez

Que dirá dos paraísos que, dizem, Deus os fez.

Já não sei de quem sou cria.

E já me chorei toda de pecados

E já me pedi inteira de perdões

E já ouvi silêncios demais.

E já me cansei tudo que consegui.

Então, agora ando por aí

Aguardando o que for feito de mim.

Mas do cálice de teus olhos claros

Nem sombras apalpo.

LLima

Luciene Lima
Enviado por Luciene Lima em 23/11/2006
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