Pedacinhos
Lembro-me das vezes em que retornei à casa
Que já não era mais minha, tampouco tua
Cercada por paredões de noites
Coberta por mares de estrelas
Repetindo teu nome, como oração de proteção.
Passava perto de malfazejos
Humanos como eu
Benfazeja de meus pais e de meus irmãos
E não sentia pedaço de medo
Embora vivesse apavorada
De não mais rever-te
De não resistir aos estampidos da saudade.
Mas, de pavor em pavor
Passei por ruas estreitas
Por cubículos madrugadores
Por pães de solidão
E mingaus de perdições
Até que ancorei aqui
Trazida pelos braços de outros amores
À margem de outros carinhos
Clandestinos.
Agora protejo-me mais
Cubro-me com colchas de lembranças
Nem tomo chuva de impressões tuas
Há tanto deixadas para trás
Acostumei-me com pratos de ausência
E deitar em rústicos colchões se tornou tão natural...
Bebo do chá de outros maridos
Comendo dos quitutes de outras sogras
E no sexo trago uma flor pálida
Dada na primavera e no verão
Fria, dura flor que se reveste em polens
E que não se sabem.
Sou hastes, bandeiras, mantôs guardados
Visões de povos agitados
Hinos nunca entoados
Cartas de liberdades desnecessárias
Ainda sonhando com espíritos que realizam sonhos
Que não possuo mais...
LLima