DAR O LUXO AO QUE NÃO SE PODE DAR O LUXO
03.07.05.
Minha crise existencial vai fazer trinta e dois anos
Vou festejá-la com muita cerveja e anestesiá-la
No dia, não vou ler Oscar Wilde nem a Cabala
Passar longe de Ernest Hemingway
Não vou ouvir Ludwig nem Amadeus
Trancar na gaveta Woody Allen
Folga para Jean-Paul Sartre e Victor Hugo
Sonífero para Confúcio, para Sócrates
Férias ao meu verdugo e
Mandar Sêneca passear com Shakspeare
Não vou olhar meus espelhos
Vou rasgar minhas introspectivas perspectivas
Expulsar meus velhos fantasmas e convidar Gasparzinho
Família Adams e comer chicletes
Queimar minhas fotos, identidade, meu automóvel
Tomar chá de esquecimento e viver no futuro
Tomar chá de cadeira e ficar imóvel
Encher balões e estourá-los sozinho e
Assim comemorar trinta e dois anos, alguns invernos
De crise existencial!