MARCOLINO ARREMETADOR

MARCOLINO ARREMETADOR

(Goulart Gomes)

Marcolino esbronhava-se com veemência

isso era peremptório.

O impositório do impossível lhe ridicularizava.

Celeste, furtiva

esquiva, dissimulada feito Capitu

escoiceava.

Não que não pretendesse,

tinha seus eivos,

suas inclinações ao tentatório,

um bruto que a abastava

e bugrinhos chucros entremeando-lhe as pernas.

Essas coisas de querência tem mais vidas que gatos remelentos;

ano pós ano sucedia-se

e aumentava o desejo, o medo.

Ele abalroava, insistia, tentava...

e se consumia.

Celeste habitava os seus particulares:

banho de rio, sono gozoso, escuro,

fim-de-semana à toa

umedecia-lhe as cuecas, surgia à mesa

habitava revistas

suecas e dinamarquesas.

À noite, com damas de luzes vermelhas

e cortinas de contas coloridas

comia Celeste no imaginário.

Evidenciava-se em mimos

e quinquilharias

presenteadas com afeto incomum,

quase dois lustros.

Ela imaginava, ardia, recuava

debatia-se em dúvidas de cio

sua própria seiva exigindo

lutar ou fugir.

Certo dia findo

o destino ou outro qualquer fantasma

confronta-os numa trilha

de poucos passos pisada.

O terminativo é indefinível.

Uns falam que nesse dia impreciso

uma fragrância mágica cobriu a cidade

outros dizem que uma chama brilhava

nos ventres, implorando sêmens

terceiros acusaram uma sede só saciável

em ângulos, retos ou curvos.

Marcolino e Celeste jamais se reviram.

Encontros e desencontros não se explicam.

Fato é que em um somaram os dias

que poderiam dividir

e as águas salgados do lago brotado

no meio da trilha

até hoje tem poderes de Afrodite.

Extinguiram-se, danaram-se

e marcaram na alma a pele do outro

eternizando a matéria.

Um pôr-do-sol não se repete.