ZOMBARIA
(Lena Ferreira)
Ouço as vozes da Mãe África
em batuques e quebrantos
zombando, o vento de Iansã
vem dançar com Ogum Megê
Nas senzalas, correntes se arrastam
cabeças e pés contorcidos
almas cortadas em chibata
sangra o grito na garganta
Oraiê Ieu Oxum, moça plena
peito feito de rios e flores
rompe os grilhoes com sua pena
Treze de maio; quizomba que zomba
Pássaros negros com asas cortadas
sem galho certo, sem pouso seguro:
uns retornam ao engenho
enquanto outros catam restos de migalhas
pelo chão de terra surrada
- fome, frio, sede, medo, morte
sem teto, sem teta, sem tudo, sem sorte
...liberdade?