Nos avessos das
minhas reticências

Desabotoo
minhas metáforas sem juízos

Nas asas cravejadas dos meus sentidos
Gemidos
Ganidos
Genocídios resmungados das minhas latências...
Hipóteses...

No redemoinho
dos meus sentidos
O bambo]
O medo... 
O incerto...
O impulso...
Tortuosas mãos de voar

Unânimes!
Alimentadas e respingadas
Em vestes violáceas
Versos violados
sóis de prisma em cores...
Inflados de ar e penas

Voar é um risco
Mas é maior o risco,
não alimentar-me
Dessa inquietude do voo

Cravejo as mãos do tempo
faço-me engolir
para além desse vento que passa
sobrevoo acima
terceirizo
frases e juízos
estou além da minha distância...

Alinhavo a voz de outras gentes
Sei da incerteza da minha tortuosidade...
Arquivo tudo num traço para outro plano

Sei que torta é essa reta
mas estou além...
estou no voo dos meus juízos...

Sem juízo algum...

Violada...
Cravejada de sentidos...
Sem sentidos
O risco é o risco do teu traço em meus cabelos cor de sol...

Desalinhe meus segredos e caos
reconheço minhas ladeiras 
e meus instintos vazados

É o meu destino!
Já não nos pertence mais...

Embora louca...
Voltarei depressa para o meu juízo.

E quem não se desprende assim?
E quem não é?

A palavra inquieta requer corte
Afinação...
A minha já se produz pronta...

É crua...
É sem maturação...



BOA VIAGEM!!


 
12/05/2011 12:23 - André Bessa [não autenticado]
Minha querida Serpente Angel, os dois primeiros dísticos do teu excelente poema "Juízos" já valem todo um poema. Os versos que se seguem não são menos geniais no que contém de sonoridades e aliterações, todas cintilantes de beleza e coerência. "Tortuosas mãos de voar" é um achado, uma preciosidade poética. E que faria muita poetisa morder os lábios de vontade de querer tê-lo escrito. O terceto "Voar é um risco... inquietude do vôo" vale, ele também, por todo um poemeto: é um haiku, pleno de inteligência poética. Esses versos são da melhor poesia já escrita. E a menção "juízos" ou "sem juízo" que se repete periodicamente, torna-se elemento de coesão para a estrutura inteira do poema, a certeza de que o fio de Ariadne da idéia embrionária continua atado ao desenvolvimento da mesma, sem extraviar-se. Um ir e vir, um sair e voltar a si mesma, dualidades que se fazem eternas redescobertas de si e do outro, dos outros, das outras, e que deságuam no penúltimo terceto de forma lapidar: "A palavra inquieta requer corte / afinação... / a minha já se produz pronta." Magnífico em lucidez. E verdade. Para mim, um dos mais belos textos já saídos de sua pluma. Indubitavelmente. E eu te felicito e te aplaudo de pé. Com um beijo e um buquê de rosas. André



 
Serpente Angel
Enviado por Serpente Angel em 07/05/2011
Reeditado em 28/10/2016
Código do texto: T2955572
Classificação de conteúdo: seguro
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