- C O L E Ç Ã O D I L E M A -
MUNDO CARANGUEJO ou REDOMA 2005
19.10.05.
Acordei em poltronas de ônibus em outros estados.
Deslizei por estradas do quimérico, do utópico.
Nas puras mentirosas construções solidificadas pelo calor
abrasante de tímidos silvos do frio de invernos serranos e angustiosos
contemplares aflitos das névoas ensopadas de ufanismo retrógrado,
habitei. Coabitei COABS inteiras num mudar-se como Tarzan de cipó
em cipó, de história em história, mecânica e insistentemente em busca
de minha Jane, sublime e abstrata Jane, onde pudesse então ser
abraçado sôfrega e animadamente.
Escrevi ter achado um caminho enfim, quando no dia seguinte,
perdido em meu fantasioso labirinto, percebi-me analfabeto diante
das indicativas placas num enigma criado e esquecido por mim
mesmo.
Fica difícil entender-me, estender-me nas delongas práxis
contraditas e despreocupadas em que livremente me prendo, me
intoco, me “in loco” e me desloco na mesma facilidade e velocidade
inconstante e irreal com que fico estático.
Penetrei mundos investigativos, instigantes, intrincáveis, penetrei
mundos do além túmulo sentado numa cadeira; deitado em camas,
penetrei no meio das pernas dos mundos de outras pessoas e coube-me
sentir suas cores, ver seus odores, provar suas caras e seus falsos
pudores.
Interrompi meus partos de fórceps ante a intromissão do mundo
real que entra sem bater em minhas portas e destronei meus súditos
sonhos movidos por minha inapetente anoréxica hepática mania de
não parar na hora certa.
Alimentei-me de aquáticos, de répteis que se rastejam
(redundância proposital), de aves, de terrestres inanimados e,
inconseqüentes; como um abutre comi carne decomposta, de-compus
minhas músicas inexatas e contraditas percepções.
Fiz-me bolos de aniversários, tornei-me por vezes o próprio bolo
de meus próprios aniversários e com meus grilhões estourei coloridos
balões que nunca subiram aos cinzentos céus de meu bolorado e
daltônico campo de visão.
Nos conta-gotas, nas gotas pluviométricas, sem algumaobservância que contivesse métrica, saindo de mim, escrevi sonetos,
regi meus CONSERTOS e vivi meus “in cestos sentidos”, doridos e
hematomáceos.
Nos clarões dos relâmpagos, inadimplente em meus compromissos
omissos (nova proposital redundância), perpetuei-me nas lápides
tantas que autografei, e hoje nem mesmo mais sei qual minha predileta
música para o fúnebre cortejo.
Aprendi que sou IMAGEM E SEMELHANÇA de tantos outros
sósias, percebi que sou clone de tantas outras histórias e descobri
que me olhas com olhos de susto e admiração inexplicavelmente.
Meu DNA (Desejo Não Alcançado), em seu espiral formato tal
qual escada caracol azul e vermelha é todo esse sobe e desce
regurgitante, impávido e relutante jeito de querer muito do todo.
Enfim, nesse Mundo Caranguejo sou senhor de meus sonhos!