Menstruação

Chama-me o ventre como cidade ardida.

Chama gritante de sangue

esgaçando os joelhos de eivado no cinza,

deixando rasto de vermelho sol-pôr.

Chama, esgana, apreixa e arde

com a urgência do preciso que não chega,

na pulsão interna do desespero,

da morte do ovo,

do fatal.

Chama, arde, afoga como mãe

que mergulha o seu filho nas águas

quentes e densas do esquecimento,

sobre as ruínas

do antigo templo dos deuses antigos,

derrubados e malditos,

a reclamarem no roxo silêncio da noite

os privilégios de outrora hoje perdidos.