Mancha branca
Escuro.
Quando de súbito uma pincelada de tinta
Clara e fresca fez borrar a pintura
Arrepiei-me.
Estragara sem querer uma obra de dias
No meio das árvores e cavalos que reluziam intactos
Uma pequena mancha de tinta branca surgia
Tênue atrapalhava a perfeição muda
Da certeza de que nada poderia mudar
Aquele borrão surgia para nocautear
Porque ou se concertava em falhas tentativas
Ou clarearia tudo, acabando e recomeçando;
Libertando-se da prisão de seu enquadramento
Limitado pelas linhas iguais e lineares a tantos outros
Confundiu-se.
Com uma serenidade dos audaciosos
Começou a tingir devagar a tela quase verde, de branco;
Num ato quase sagrado apagava as lembranças
Vingando-se sabe lá do que sentia
Raivosamente em rabiscos desconcertados
Viu-se sorrindo levemente
Com uma sagacidade que ninguém entenderia
E tão pouco chegaria a sentimento tão denso e duro
Quis apagar correndo para não ver a dor que se aproximava
Mas quando percebeu já não mais pintava
Caíra pelo chão em desmaio.