Mancha branca

Escuro.

Quando de súbito uma pincelada de tinta

Clara e fresca fez borrar a pintura

Arrepiei-me.

Estragara sem querer uma obra de dias

No meio das árvores e cavalos que reluziam intactos

Uma pequena mancha de tinta branca surgia

Tênue atrapalhava a perfeição muda

Da certeza de que nada poderia mudar

Aquele borrão surgia para nocautear

Porque ou se concertava em falhas tentativas

Ou clarearia tudo, acabando e recomeçando;

Libertando-se da prisão de seu enquadramento

Limitado pelas linhas iguais e lineares a tantos outros

Confundiu-se.

Com uma serenidade dos audaciosos

Começou a tingir devagar a tela quase verde, de branco;

Num ato quase sagrado apagava as lembranças

Vingando-se sabe lá do que sentia

Raivosamente em rabiscos desconcertados

Viu-se sorrindo levemente

Com uma sagacidade que ninguém entenderia

E tão pouco chegaria a sentimento tão denso e duro

Quis apagar correndo para não ver a dor que se aproximava

Mas quando percebeu já não mais pintava

Caíra pelo chão em desmaio.

Lady Sophia
Enviado por Lady Sophia em 18/11/2006
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