Entranhas
Ventos fortes rasgaram o peito
e expuseram minhas entranhas.
Da terra brotou o barro de que fui formado.
Um Adão de outros tempos.
A luz de claro dia revelou o que sou,
como sou além da matéria.
Sem hipocrisia.
Meus sonhos rasgados,
jogados em praça pública
onde os filhos dos homens
seus dentes rangiam.
Visão distorcida de alem mar,
horizontais pensamentos,
fantasias e quimeras a desfilar
em meio a multidões e risos.
Os homens dormem no seio da terra.
A terra engole a voz.
O silêncio se perpetua
em faces desfiguradas,
cobertas de sol e suor
de cinzas e de lamentos.
Por um instante um som
anuncia o apocalipse.
Ou seria um eclipse?
Os homens correm sem direção.
A poesia já não existe.
Nenhum verso triste.
Nem o sol ou a lua.
Nem mesmo a verdade crua
cobrindo o limo que lava a terra.
Vagas lembranças se desvanecem
em meio a insanes objetos
e corpos que se entrelaçam
em decomposição.
De espírito aberto,
de entranhas expostas.
aguardo o dia da redenção.