RIBEIRO
O ribeiro corre para mato a dentro
Corre o ribeiro, sabe-se lá para onde,
O seu mistério, destino se esconde,
Não se sabe se para cima ou para o centro.
Vem correndo da nascente, límpido ribeiro,
Sob o sol matando a sede dos bichinhos,
Sai rasgando a serra e abrindo caminhos,
Correndo contente sem um paradeiro.
És ribeiro e tem rios mais caudalosos,
Mas não fazem a tua obra ao refrescar
A floresta onde vidas a embrenhar
Tão ariscos bichos cautelosos.
O ribeiro corre em seu refrigério
Para o ser mais sedento do calor do dia,
Recupera do langor a harmonia
Para onde corre me é um mistério.
Eu olhei e vi como é seu correr estilo
Leva folhas secas que lembram baixeis
Refrescando os sapos e os coroneis
E também na margem banha-se o esquilo.
Tão suave corre seguro, o ribeiro,
Corre até a mágica queda dágua;
Vai limpando toda dor e mágoa
Que por ventura lhe abateu ligeiro.
(JORÃO BENTO)