A CELEBRAÇÃO
Uma canção abrilhanta o ar
dos tortos e dos retos,
e às pressas dá a nota certa
para alimentar o sono do
ouvido de vidro do sonhador.
A melodia triste encanta
o dorminhoco na sala de jantar,
à espera do prato de fera
amaciada pelo canto lírico
da arma crua do caçador.
A dor da caça engorda as
pessoas do templo da criação,
o livro mostra a letra, elas
impetram o tom e cantam a canção
fúnebre na festa da fertilização.
A casa caiu com o forte som
dos senhores da sobremesa,
as flores murchas entoaram um
hino com o perfume ébrio da
ilusão, fechados para a colheita.
Na porta de entrada aparece
a letra em laser, sky-blue,
os ossos se amontoam em ritmo
frenético e guardam a entrada
principal, com batida de percussão.
A mesa farta enche os olhos
e as pernas caem em inanição,
a harmonia morta amacia as
cordas do vocalista de barro
embevecido pelo milagre da flexão.
O coro se formou na sala e
o jantar foi servido à hora,
os convidados fecharam os olhos
e comeram a canção fria
com o suor fértil da oração.
(Obs.: poema publicado no Livro ASSIM SE FEZ)