A CELEBRAÇÃO

Uma canção abrilhanta o ar

dos tortos e dos retos,

e às pressas dá a nota certa

para alimentar o sono do

ouvido de vidro do sonhador.

A melodia triste encanta

o dorminhoco na sala de jantar,

à espera do prato de fera

amaciada pelo canto lírico

da arma crua do caçador.

A dor da caça engorda as

pessoas do templo da criação,

o livro mostra a letra, elas

impetram o tom e cantam a canção

fúnebre na festa da fertilização.

A casa caiu com o forte som

dos senhores da sobremesa,

as flores murchas entoaram um

hino com o perfume ébrio da

ilusão, fechados para a colheita.

Na porta de entrada aparece

a letra em laser, sky-blue,

os ossos se amontoam em ritmo

frenético e guardam a entrada

principal, com batida de percussão.

A mesa farta enche os olhos

e as pernas caem em inanição,

a harmonia morta amacia as

cordas do vocalista de barro

embevecido pelo milagre da flexão.

O coro se formou na sala e

o jantar foi servido à hora,

os convidados fecharam os olhos

e comeram a canção fria

com o suor fértil da oração.

(Obs.: poema publicado no Livro ASSIM SE FEZ)

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 23/04/2011
Reeditado em 23/04/2011
Código do texto: T2926022