Para quem está acordado
Há universos paralelos, sintonias que transpassam outras, ondas que se entrecruzam, cortam-se, comem-se, compõe e se decompõe, abrindo flancos, brechas, fissuras na realidade.
Há universos de sons vivo e brilhantes, coisas pequenas que vão se juntando; abstrações que perfuram a rede, a parede, o concreto e põe o teto abaixo, desmontando a história.
Essas coisas invisíveis são como luz rasgando a escuridão, raios abrindo o manto do céu, estrelas respingando na noite. Coisas feitas para quem quer ver além das seis da tarde.
São nesses momentos que a magia funciona, a eletricidade das pessoas triscam-se, é quando se tece uma rede paralela que permeia tudo, que repassa pelos cérebros e antenas.
Não sei o que é mas funciona. É assim que as pessoas se atraem, se cruzam, se usam, se amam e trocam ideais, constroem idéias, absorvem umas às outras, interligam-se e dão-se choques.
É nesse toque sem toque que tudo influi, infiltra-se, dão-se as trocas; é quando se cria música, um rock, um poema ou uma valsa vianense, a arte circense, o batuque ancestral que ainda bate no presente e retumba no futuro.
O universo se comunica, se devora, se destrói, vira pó e se reconstrói. Essa comunicação surda, de estrondos distantes, é que nos faz iguais ao cão e à pulga do gato, à sola do sapato, ao pato e ao leão, à cobra e ao jabuti. Se isso não for ciência, pode ser que seja poesia.