Dor azul

De repente essa dor azul, a escorrer da esferográfica

Manchando de emoção, o branco do papel

Soluço desenhado, em ABC formal

Canalizado às custas, de minha vã dialética...

Às favas mandaria, senhores do meu mal...

E palavrões sem fim, urrava num tropel

Diriam desta dor que avinagrou meu mel

Anuviou meu céu, cegou minha visão...

Meu céu de fantasia, agora confiscado

Repleto de urubus e feras assassinas

Serpentes que mordiscam, até seu próprio rabo

Feras das mais ferinas, mil aves de rapina...

Morrentes, desmaiadas, carniça predileta

A atrair na sanha, os canibais sentidos

Por ser azul, é certo, se faz doce e seleta

A minha dor rezada, é isca tão patética.

Aplausos, ó quem dera, fosse bondosa paga

Mas corte de adaga, no meu tendão de Aquiles...

Meu asco se deflagra e estanco o meu deslize

Contenho-me de mais, me entranho em reticência.

Se dor em tal demência, razão extrapolada

Silenciosamente, apago essa rasura

No branco do meu nada, sem trilha a captura

Do mal que me desola, a fuga desvairada.

ANA MARIA GAZZANEO
Enviado por ANA MARIA GAZZANEO em 09/04/2011
Reeditado em 09/04/2011
Código do texto: T2897951