Dor azul
De repente essa dor azul, a escorrer da esferográfica
Manchando de emoção, o branco do papel
Soluço desenhado, em ABC formal
Canalizado às custas, de minha vã dialética...
Às favas mandaria, senhores do meu mal...
E palavrões sem fim, urrava num tropel
Diriam desta dor que avinagrou meu mel
Anuviou meu céu, cegou minha visão...
Meu céu de fantasia, agora confiscado
Repleto de urubus e feras assassinas
Serpentes que mordiscam, até seu próprio rabo
Feras das mais ferinas, mil aves de rapina...
Morrentes, desmaiadas, carniça predileta
A atrair na sanha, os canibais sentidos
Por ser azul, é certo, se faz doce e seleta
A minha dor rezada, é isca tão patética.
Aplausos, ó quem dera, fosse bondosa paga
Mas corte de adaga, no meu tendão de Aquiles...
Meu asco se deflagra e estanco o meu deslize
Contenho-me de mais, me entranho em reticência.
Se dor em tal demência, razão extrapolada
Silenciosamente, apago essa rasura
No branco do meu nada, sem trilha a captura
Do mal que me desola, a fuga desvairada.