VERSOS OCOS 1-12

(Estes versos são alinhados ao centro, mas na colagem se desformataram e vai levar muito tempo para arrumar).

VERSOS OCOS I

pelas campânulas

tambores ocos

no suflar argentino dos tufões

no rodopio gentil dos furacões

em que almas dançam na luz atribulada

das luas mortas da estação passada

compassada compassada

repassada repassada

repassa e passa

sai do intelecto

e não da alma

este estertor melífluo do pardal

oximoresco seu pio desnatural

neste desgosto total por novo afeto

que pus de lado e circundei completo

catalepto catalepto

espectro espectro

no plectro do plectro

VERSOS OCOS II

enche a camisa

um vão suspiro

e noutro instante me encarquilha o peito

ponho de lado o sonho sem defeito

na surpresa amarelada do regresso

na cânfora azulada do pregresso

feito ingresso feito ingresso

progresso progresso

engesso em gesso

bimbalham guizos

verdes prejuízos

qual sino mole de cascas de mogango

meus clarins se enrouquecem e me zango

contra a matéria indolente das cabaças

a chocalhar matracas pelas praças

sem que desfaças sem que desfaças

asas de traças asas de traças

o que retraças como retraças

VERSOS OCOS III

enlanguescido

novo sentido

do catavento transformado em siso

do furacão que mal aciona um guizo

no randômico esbatir aleatório

de sabor pélvico e som circuncisório

perfunctório perfunctório

fosfório fosfório

um foro no foro

mas não importa

navalha corta

cerceando a voz plangente de meu canto

manifestado mesmo assim contanto

que ainda jorre a glória em borbotão

no retalhar da mente e coração

contradição contradição

tradição tradição

na traição contração

VERSOS OCOS IV

farsa imperfeita

ritmo novo

foge completo ao pendor do corrupio

que me fluía do peito feito rio

nos sabores regulares do soneto

que por feroz que seja escorre quieto

irrequieto irrequieto

requieto requieto

inquieto no quieto

sussurro manso

sem ter descanso

em surpreendente valor de defasagem

sem covardia mas sem pingo de coragem

varrido de emoção mordaz salobra

como a água que jorra ao fim da obra

amargobra amargobra

que obra sem obra

na obra da cobra

VERSOS OCOS V

em histeria

dia após dia

o vagalume chama o olhar do sapo

o fio de ouro se transforma em trapo

a bola de cristal esconde o mal

a ponta de um anzol esconde o sol

o vácuo agarro

a luz amarro

enquanto o sapo pretende iluminar

enquanto o ouro pretende renovar

a aurora cristalina do teu beijo

grafitizado na ausência de um ensejo

sou caranguejo qual caranguejo

então manquejo num murmurejo

e apenas vejo o meu desejo

VERSOS OCOS VI

no grito histérico

canta a gaivota

a saga moribunda das cocotas

a exultação senil das maricotas

o pipilar zombeteiro dos pardais

os próprios versos que não lerás jamais

esmeraldinos esmeraldinos

caudalinos caudalinos

ferinos ferinos

na praia azul

marcha um leproso

seus pés descalços presenteiam o contágio

quem aprecia das areias o apanágio

quem se estende sobre elas sem reserva

sem proteção sequer de qualquer erva

triste epopeia triste epopeia

adeus Hygeia adeus Hygeia

nem faz ideia nem faz ideia

VERSOS OCOS VII

na franja alada

há um canivete

cortes fundos no tapete voador

o vento silva qual ventilador

o gênio busca a lâmpada sagrada

e a rolha não consegue mais tirar

contaminada contaminada

desencantada desencantada

jaula dourada jaula dourada

não há mais tempo

torna-se humano

porém suas pernas são riscos de fumaça

em passos trôpegos sua senda traça

destruturado da divina providência

obrigado a aceitar a previdência

aposentadoria aposentadoria

pensão vazia pensão vazia

triste elegia triste elegia

VERSOS OCOS VIII

amei a sorte

foi cobra cega

fiz um colar com mil olhos de vidro

tomados de cristais de pura geada

um fio de vento usei para fiada

meu casaco transformei numa pandorga

constantemente constantemente

ebulescente ebulescente

efervescente efervescente

na multidão das hordas

contei os caramujos

é preciso descartar qualquer sentido

que versos loucos tenham conduzido

um barco a vela que abandona oceano

uma carruagem desce às profundezas

emaranhezas emaranhezas

um tanto tesas um tanto tesas

nas realezas das realezas

VERSOS OCOS IX

a caçarola

aleita o azeite

ferve meu coração em minhas entranhas

na busca amarga de vozes mais estranhas

um hipopótamo dança na fogueira

o faquir deixa os pregos pela esteira

abracadabra abracadabra

cadáver abra cadáver abra

redil de cobra ninho de cabra

serpente morta

não perde casca

o vento já exauriu-se de desejo

fecunda a relva com solerte beijo

os gafanhotos ressurgem no deserto

a colmeia nativa está bem perto

peripatética peripatética

peripécia peripécia

profética profética

VERSOS OCOS X

dentes de serra

aqui me estendo

ao plutocrata meu cavalo rendo

ao oligarca minhas fezes vendo

procuro em vão ficar embriagado

dionyso afastou-se de meu lado

no desperdício no desperdício

só há resquício só há resquício

do viço do vício

é zombeteiro

o olhar ligeiro

em serenata convoquei trovões

os hipocampos cantam-me canções

estou imerso na dramaturgia

a seca emerge em ácida alegria

na liturgia na liturgia

desta agonia desta agonia

a profecia aqui jazia

VERSOS OCOS XI

na academia

oleosos corpos

eu não pretendo levantar mais peso

meus músculos já tem obrigação

de carregar os males de meus versos

de desgastar-se em velhas ladainhas

ângelus ângelus

arcângelus arcângelus

síngulus síngulus

sem horários

tempos de terços

eu durmo envolto no hábito da data

meu travesseiro é o dia que desata

os meus lençóis dois meses em declínio

o meu colchão manual de latrocínio

meu ordinário meu ordinário

é um corsário é um corsário

extraordinário extraordinário

VERSOS OCOS XII

em pura osmose

desenfreada

a propaganda atiça a mais consumo

meus tristes versos apenas um resumo

do canto alegre de mil flores mudas

na calandra esfalfada em que me escudas

tombadilho tombadilho

no trilho no trilho

me ilho me ilho

perdeu-se o siso

do escaravelho

os versos resmoneiam de degredos

as grades libertaram mil segredos

há elefantes no reino de sião

há mil diamantes no meu coração

num alvoroço num alvoroço

após o almoço após o almoço

remoço remoço

William Lagos
Enviado por William Lagos em 07/04/2011
Código do texto: T2893955
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