PARADAS CARDÍACAS DE UM CORAÇÃO METROPOLITANO

Coração metropolitano

Batendo britadeira

Nas esquinas poluídas

Dos tantos momentos

Cimentados

Coordena descompassado

O não-fluir

Não-estático

Do trânsito

Congestionado

Rege

Uma chuva sistólica

Em compasso lento,

Engarrafado

Esfria estados

Engaveta sentimentos

Agora mesmo

Enquanto versejo,

O incansável

Músculo trabalhador,

Acidentado,

Fraqueja

Neste exato momento

Enfarta

Super-rápido

Seu último ato

Antes de estagnar o peito...

Liberta-se

Das feridas do dia-a-dia

Da vida não sentida

De seus neuróticos efeitos

Logo em seguida

Chama um táxi

Numa paulista avenida

Para levá-lo

Sem desvelo

Entre

Tropas de choque

E paradas cardíacas

Avança

Ignorante, sem receio

Sobre todos

Faróis vermelhos

Que porventura encontra

Nessas esnobes ruas compridas...

Debochado,

Definitivamente pára

Ainda fibrilando

Paga a corrida e

Salta do auto

Numa praça desconhecida

Desguarnecido da lembrança

De tudo e todos

Que já o fizeram palpitar

Só então,

Finalmente

Oficialmente

Ex-coração

Salvo desse batecum

Insano, agitado,

Em desvairado falsete

Pode aproveitar a noite

: Como antes nunca o fez

Ou sentiu

E se embriaga de chopp

E caipirinha

Num fastuoso Happy-Hour

Desses cheios de comidas

Gordurosas

Lá pelas tantas

No meio das putas

E das travecas

Glamurosas

Ainda tem forças

Para gargalhar

Incontida alegria

Ao lembrar

Que amanhã, de manhã

Não haverá mais um dia

De bateria, de covardia

Porque quando se morre

É quando mais se celebra

A vida

Nesta simpática fábrica

De zumbis