PARADA CARDÍACA 
 
Fosse eu estátua
emudecer-me-ia
frente a humanidade.
 
Fosse eu estátua
não teria voado tão longe
e já não seria mais humano de verdade
nem veria mais o sol
que amo tanto.
 
Porém
quisera eu ter sido Homero
nem meio nem inteiro
apenas
ter sido Homero,
o verdadeiro...
 
Fosse eu estátua
e teria assistido o caos...
-estátua da Liberdade e a morte das torres gêmeas-
ou a miséria dos homens
e os miseráveis passantes
-no mesmo instante em que a fumaça de um cigarro adentra meu nariz de pedra e uma pomba branca defeca na minha cabeça de mármore carrara -
 
Eu parado feito estátua
e o mundo rodando em luzes...
Eu meio zonzo, oco, louco,
parado no tempo, incógnito.
E retardado, um pouco!
 
Fosse eu estátua,
morreria de tédio!
 
Meu mundo não teria ondas, buracos negros,
acidentes, elevações, rugosidade profunda.
Estátua é um atrativo só no dia do lançamento.
Nos outros nem limpa a bunda.
 
Estátua, não!
não serei salvo pelo contrário da incerteza.
Não tem beleza...
 
Estátua,
cuido em não sê-la.
 
Quero morrer
pedra e pó
ao relento
corpo que desaparece aos poucos
fragmentado
cisco ao vento.
Pele, língua, cabeça e coração
entre a fronteira do real e da emoção
em paz, mas atento.
Instantaneamente
acidentalmente:
silêncio.
 
 
 
wildon
23/03/2011