DESRIMA & MAIS

desrima

espera enfim que o tempo amadureça

espera por tabiques perigos e venenos

espera por golfadas adornos repentinos

espera por sorrisos amargos salaciosos

aguarda então na espera dolorosa

aguarda então em teu ideal desfeito

aguarda e 'chora o teu passado amado'

aguarda então os anos desvalidos

resume teu passado em vã memória

resume teu presente na ampulheta

resume teu futuro em pó de sombras

recebe tal futuro inexistente

recebe inerte a taça da alvorada

recebe em luz vazia de ilusões

RECORDAÇÃO VII

Depois de muito fazer-se de rogada,

Ela entregou-se, pensando menstruada

Não vir a engravidar, erro freqüente,

Que ao menos desta vez, inconseqüente

Se demonstrou, pois gravidez não houve...

Sendo a primeira vez, um desajuste

Sempre surgiu; embora claro embuste

Fizesse pretender, um brado não se ouve.

Um sem prazer o esperma ejaculou,

A outra só de leve sentiu ardor, apenas,

A sugestão fugaz de quanto havia esperado.

A glória de possuir somente superou

Os anos coletados de numerosas penas,

Enquanto o pomo d'ouro foi outra vez adiado.

RETALIATION

This is normal indeed, for less blessed

it is to receive than to give -- o, a deal!...

as much your feelings you'd well conceal

still there's resentment for being pressed

into thankfulness; you feel you're lessened

by having to take help and someone's advice.

it's like patronizing to you; and the spice

is bitter on your tongue, you fancy wizened.

therefore so often feelings for rebellion,

were manifested, oppression and smothering,

the suffocating power of a presence

felt too strong and all the more exacting

as nothing was requested, no collection

but for heart and mind and soul's essence.

RECORDAÇÃO VIII

Mas depois... repetimos tantas vezes...

O desajuste foi-se e, bem contrário,

O prazer revelou-se, multifário,

De intensidade plena, enquanto os meses

Em anos se faziam, até que um dia

Ela me disse que tinha algo a contar:

Que o amante antigo volvera a reencontrar

E que fizera amor não me escondia,

Pois não me pertencia e, se eu podia

Fazer com ela e outra, ela também

Tinha direito aos homens que escolhesse.

Mas eu, sabendo que a ela pertencia,

Entreguei-me sem mágoa e sem porém,

Para que a mim somente pertencesse...

DESPITE ALL

i am tired of thee, O Muse way too fickle

my dreams a-thwarting like a sharp sickle

i am tired of life, a game way too hard

cutting through my dreams like soft lard

i am tired of teaching, a task way too boring

looking at faces all unwilling and snoring

i am tired of doors, always way too close

smacking my knuckles and bleeding my nose

i am tired of bills, taxes way too tall

for as much i make, must spend it all

i am tired of pain, it's way too smart

as soon as some heals, another shall start

i am tired of people, a job way too difficult

smiling outwardly to swallow the insult

i am tired of working, far away too long

melting out my brains, getting paid a song

i am tired of sonnets, far away too true

to register my ashes, my demise, my rue

i am tired of courting, far away too sick

a heart in a maze, walled in by brick

i am tired of translating, way too meaningless

all the folly of others, mine own to stress

i am tired of fighting this computer of mine

troubling me galore, always grudging a line

i am tired of praying, as far too heedless

to my mirror gods, never bent to bless

i am tired of preying on my own design

my hands oozing verse, soul sweating brine

i am tired of my dreams, far away too roving

never to be accomplished, all astray from loving

i am tired of my body, way too a prison

fettering and chaining, season follows season

i am tired of my heart, way too hopeful

expecting too much, then achieving null

i am tired of my mind, way too clotted

with useless song, by poetry besotted

i am tired of my soul, way too clean

to believe in death, in hell, in sorry sin

i am tired of giving, way too bleeding

yet never taking, yet never seeding

i am tired of waiting, far away too patient

procrastination always, never a fast grant

i am tired of expecting, far away too soon

for my labors' salary and never a free boon

then i am tired of hope, 'tis way too beckoning

an hourglass of wisps to sightless reckoning

and yes,

i am tired of thee, O Muse way too fickle

my dreams a-thwarting always

ever the sharpest sickle

and still

for all my pains, for sorrow deeply riddled

fight back i shall till all my fight is stilled!...

ESCOLHA MÚLTIPLA

MORTA

Depois de cada noite, cai a aurora MORNA

INÚTIL

DE CINÁBRIO

E "os dedos rosicler as nuvens pintam" VERDES

PATINADAS

LÁSTIMA

De tons violáceos por que os olhos sintam PENA

MARTÍRIO

SE VENDIA

Que se renova a luz tal como outrora SE COMPRAVA

SE LANÇAVA

PRECLARA

Depois de cada dia ergue-se a noite LUZENTE

ESPLENDOROSA

DE NEGROR

E os dedos argentinos logo caiam DE VITÓRIA

DE AZEDUME

DANÇARINAS

Para que dos recantos sombras saiam FESTIVAS

TUMULARES

LÍMPIDO

E expulsem luz diurna em fero açoite MACIO

SERENO

DOURADAS

Porque é de noite que se vêem as cores FRAGÍLIMAS

FILIGRANAS

ABAFADO

Dos sonhos ocultados pelo dia DOENTIO

CONFUSO

NULAS

E as formas são mostradas pelas almas MURCHAS

SABOROSAS

MÁGICOS

No total ostentar dos resplendores ÁCIDOS

NEGROS

SEMENTE

Do turbilhão das emoções mais calmas ROLHA

TROMPA

INFELIZ

Que à luz diária se fazem nostalgia MELANCÓLICA

PATÉTICA

LIMERICK

GRUDGE

THERE WAS A MAN

WHO WROTE A POEM

FOR LOVE'S SAKE.

AND THEN HE SAID,

ALL THAT I MAKE,

THE TAXES TAKE!...

TESTAMENTO

EU HOJE NÃO QUERO

ESCREVER

MAIS NADA; POIS A NOITE É LIVRE,

MAS NÃO TENHO UMA ESTRADA

EU HOJE QUERIA

ERA FAZER

TUDO; MAS A NOITE ESTÁ PRESA

EM GRILHÕES DE VELUDO

EU HOJE PERDI

O SABOR

DA ESPERANÇA; POIS ENCHI MEUS

BOLSOS COM DESESPERANÇA

EU HOJE GANHEI

O FAVOR

DA DERROTA; ELA ME SORRIU

E DIRIGE MINHA ROTA

HOJE EU PERCEBI

QUE PERDI

A PARTIDA; E ASSIM PERMANEÇO

COM A PENA DA VIDA

HOJE EU RECONHEÇO

JAMAIS

TEREI SORTE; AO FIM DA SENTENÇA,

EU BEIJAREI A MORTE

EU HOJE CONFESSO

RESPEITO

POR NADA; POESIA É IRONIA, A VIDA

É UMA LIDA, VIVER É PIADA

E EU HOJE COMPLETO

ESTE ATROZ

DITIRAMBO: SOFRER É LOUCURA, A DOR

É TOLICE, SÓ O RISO É VERDADE

HOJE ENFIM ADMITO

QUE É SÓ

MANEIRISMO; QUE OS VERSOS

ESCRITOS ASSIM SÃO CINISMO

ABANDONO

e assim, também os versos Estertoram

quando a musa se retira, Melindrada,

quando pretende que inspirar mais Nada

é seu novo fulgor, em que se Arvoram

novos amantes, a disputar a Fada,

novos desejos, que a espoucar Estouram,

obrigações que o tempo lhe Devoram

e já nada mais resta à Encruzilhada

iluminar de quem lhe foi Sincero,

que a obedeceu em tudo, foi Austero

e apenas redigiu seus Desatinos,

abrindo mão de todos os Prazeres,

tão só por ela cumprir os seus Deveres,

quem por ela esqueceu outros Destinos.

kallyopsis

oh, virgem minha,

por tantos

repossuída,

enquanto as eras,

uma a uma,

escoam,

enquanto os turbilhões,

na mente,

soam,

da multidão

de versos,

esbatida,

como as ondas

do mar,

uma torrente,

rebanho

de emoções,

quais alimárias,

pastando

insatisfeitas,

multifárias,

nos prados

de minha alma

inconseqüente.

e foste tu que tudo provocaste!...

teu rosto erguido para mim, à noite,

como um fantasma de gentil maldade...

pois perfuras em mim a inspiração,

a espicaçar em verso!... o coração

de quem ver pode em ti a virgindade.

INSÔNIA

NÃO TE SUPLICO SONHOS MAIS, CALÍOPE!

musa singela, jovem cujos seios

mal rebrotaram, frente ao olhar míope

de quem te conquistar, por todos meios

envidou, enquanto as faces frias

e o corpo de hera semi-recoberto

erguia para mim as nostalgias

iluminadas por farol; decerto

era o farol dos sonhos ofertados

a quem fechasse os olhos, apertados,

e buscasse dormir e descansar.

MAS EU NÃO QUERO

dormir para sonhar!

pois quem sonha acordado muito mais

até prefere não dormir jamais!

TRANSEUNTE

Ela passou por mim na vida, apenas,

deixando atrás de si restolho de perfume;

não era jovem mais -- da vida as penas

trazia gravadas no rosto, em azedume.

Talvez fosse traição, talvez ciúme,

o que a marcara tão profundamente;

não era velha ainda -- mas resume

o rosto o quanto amargurou-lhe a mente.

E por jovem não ser, nem velha ainda,

olhou-me num relance fugaz de avaliação,

na esperança, talvez, de em nova exaltação

renovar por instantes a mocidade finda.

Mas eu a olhei, tão só, indiferente:

Seu brilho se apagou e foi em frente.

William Lagos
Enviado por William Lagos em 23/03/2011
Reeditado em 23/03/2011
Código do texto: T2865081
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