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Nada do que posso me surpreende
O óbvio parece me conhecer melhor do que eu
A razão se impõe diante de minhas atitudes
A leveza insustentável me pesa
Fui eu quem pintou aquele dia para você
Eu enfeitei a tarde cinzenta com chuva fina
Tirei a rotina de tua tarde monótona
Eternizei o momento para que parasse assim
Agora sobrou o quadro que pintei
Concreto, real e passado, passado
Será que tudo em mim é passado?
Passo a vida construindo meu passado concreto
O presente se enche de ternura ao lembrar, lembrar
Consegui ir ao fundo do oceano num só fôlego
Agora estou aqui diante de um frio LCD
As letras me vem como gotas de chuva
Sinto-me abraçada ouvindo essa canção
Ela fala de amores que nem chegaram a existir
E da tristeza das feridas desses não-encontros
Perdida entre a realidade e a fantasia me escondo
Nada quero senão minhas digitais em mim
Não emolduro quadro que nem pintei
Tudo o que vejo realizei, fiz, eternizei com minha retina
Enfreitei dragões e bruxas enquanto dormia
Acordei cansada, exausta de não ter vivido até o fim
O que faço com meus reflexos? Com meus espelhos?
Era tudo o que queria sonhar por hoje
Uma enormidade de água me cercando
Um tanto assim de sal me saboreando
O verde e o azul se confundindo em mim
O massagear das ondas em meu corpo nú
Vem vento invadir minhas entranhas e pensamentos
Quanto mais areia no caminho mas intenso o céu
Tantas praias ainda desertas e sem dono
Chego e logo quero partir...
Não quero tua mão para chegar
Quero sua essência para continuar...