POESIA MISERICORDIOSA
Cavalgando num unicórnio alado d’um branco de paz,
Trago para a tormenta que te veste na vil infelicidade,
Um sabre de ouro de afiado corte...
Transformo-lhe em guerreira da presa mente que te faz,
Alucinando o coração valente desgarrado, ré da saudade,
Antes que penetres em suma morte.
Da água das fontes do meu cantil prateado, tomas um gole,
Enfeitiçada pelas premissas do tempo tombas e adormece,
Quão uma princesa, a mais bela!
Da cantoria emancipada pelos uivos dos ventos, feito sopro d'um fole,
Cada dia mais a tragar-lhe e mesmo que fujas, o chão te desaparece.
Vida que não é mais tua, és dela.
Do sabre que agora empunhas, ceifa a discórdia e a vã fantasia;
Espalhas a dor da verdade e colhes tristes as mentiras pungentes,
Levas mensagem no peito ardido...
De tanto amor que derramas onipresentes, faz-te Deusa magia;
Que queima e mata as promessas de quaisquer almas errantes...
Na terra que tinhas orgulho ferido
Mais que sábia, deixas nobres indagações maduras nas palavras,
Costuradas num corpo que não é seu e que sobe em três altares...
Neste primeiro, o da falha justiça...
Que te consome em raiva e te cospem incertezas de muitas travas,
O segundo que escalas, é a tristeza que invade os mundos e lares,
O último..., a loucura que te atiça.
Mata-me, mata-me, ó poesia! Diz pra mim nos seus tantos enredos,
O que é uma vida que nada vale sem uma razão, uma cor sem mão,
A pintar o arco-íris na minha morada.
Ressuscita-me ó poesia! Tiras de mim essa pele seca, os meus medos,
Brota-me em flores cheirosas o que foi asco nas torturas dessa solidão,
Exploda-me feliz no fim desta jornada.