A Grande Arcologia

Lá vem o grande

O grande, o grande

O grande acontecimento

Cimento, cimento

Cimento e concreto armado

E aço, e vidro, e pedra e tijolo

Tijolo, tijolo

Não era esperado, nem predito

Era sonho, e grande, e impensado

Era o que os homens não sentem

Não sentem, e não podem ver

Não podem ver, nem ver, nem ver

Nem mesmo depois de pronto

Não olham, nem vêem, mas vêem

Vêem o cimento e o tijolo

O aço e o vidro e a pedra

O concreto e os homens armados

Lá vem e abdica do medo

Dos homens e suas entranhas

Não vêem, a cabeça está baixa

Está baixa e não olha onde vai

Onde vai? Vai além das estrelas

Cimento, janela e tijolo

Janela de pulo e de vôo

Não vêem, estão todos cansados

Cansados não olham o cimento

Cimento, dormente da porta

A porta que leva pra dentro

Pra fora estão as estradas

E o verde, e a cidade, e a murada

Não vão para dentro da noite

A estrela na noite parada

A vida que vai cambiante

Não vê com a cabeça abaixada

Caminhando dentro da noite

A noite está fora, na estrada

Entrar é comprar, é partir

Pra dentro de fora da noite

Na noite destinos cruzados

Não vás, não me deixe, não escuto

A noite está quieta calada

Não vá, como dizem sem vozes

O verde a cidade e murada

A estrada, essa não diz nada

Só leva pra fora do novo

A porta se abre se é paga

Pra fora de dentro da estrada

Não vou? Quem não vai? Quem não sabe?

Não sabe de dentro a escada

Não vou? Ter a vida arriscada

Não vá ter a vida riscada

Mas à muito tempo sonhada

Há uma canção entranhada

Canções são assim, foi quem disse

Quem disse que há fogo na escada

Estranhas as vozes da noite

São foices das amarguradas

São pagas que cobram a porta

A porta que não leva a nada

...

Mas sei de outro sonho mesquinho

E esse não se cala nem com a boca da noite

Não são os cavalos velozes que correm ao vento

Nem a porta aberta que leva à escada

Nem nada, nem nada, nem noite nem tempo

São aço, tijolo e cimento

E vidro e pedra e concreto armado

São homens armados de pó e relento

São vozes que mandem que entre e não entro

São vezes e vezes que vêem o cinzento

Mas estão cansados, a cabeça está baixa

Não vêem o grande acontecimento.

Não entram no grande acontecimento.

Não têm coragem de juntos

Assistirem o amanhecer.

Sanyo
Enviado por Sanyo em 16/02/2011
Reeditado em 01/07/2011
Código do texto: T2796372
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