INQUIETAÇÃO
Há em mim uma inquietação permanente.
Não… não estabeleço qualquer relação de pertencimento - Não quero.
Não pertenço a nenhum lugar… a ninguém… a nada.
Não pertenço nem a mim mesma… de tantas que sou… e sinto.
Posso até doar minha alma… por uma causa justa.
Doo.. Doo-me muito e sempre. Minha alma é larga, plena e feliz – Intensa e levezinha.
Mas o meu corpo?... Este, não.
Apenas o doo quando percebo valer à pena.
Nem que seja o batom… Nem que seja o meu tempo.
Tem que valer minha existência naquele momento… Se não, não doo.
Estranha esta forma de relacionar-me com o mundo.
Sou permanente nas minhas relações com os seres do universo – Todos.
Mas sou inquieta em mim mesma… nas minhas relações com o mundo.
Os contextos sempre incomodam-me profundamente.
É muito vazio e levemente alegre esta ausência de pertencimento.
Causa-me uma liberdade quase ousada… sem pretensão de ser.
SER… ESTAR…
Dois verbos que confundem-se por vezes.
Eu SOU feliz… Mas não ESTOU feliz todos os instantes.
Nem mesmo os palhaços o são, coitados.
Por trás daquele sorriso pintado… quantas dores.
Ao menos sou mais liberta que eles…
Embora queiram-me pintar este sorriso de quando em vez.
Não… não necessito deles. Não escolhi esta difícil arte como ofício.
Eu, simplesmente, não conseguiria - Pobre de mim… não transcendo.
Embora tão limitada em minha existência inadaptável… exijo respeito.
Respeito ao meu estado de ausência de pertencimento.
Respeito ao sorriso que não quero dar… embora feliz.
Respeito ao meu corpo… que não doo se não quero.
Respeito a generosidade da minha alma… que doa-se sempre… e sempre.
Mas… tomas cuidado com o meu anjinho. Ele assusta-se. Ele é livre.
Não confundas minha alma com qualquer relação de pertencimento.
Sim… Eu SOU feliz.
Mas não confundas o SER e o ESTAR.
Sou apenas uma mulher… em várias.
Karla Mello
Fevereiro 2011