Arquivo Morto

Olhei para meus escritos, já empoeirados,

e vi rastros de inquietude e impaciência.

Pude observar meus sentimentos obsoletos

e minhas manias exacerbadas.

Olhei bem fundo, dentro de minhas idéias,

e não hesitei em fitar as lamúrias

que regurgitei a cada letra desenhada

Não consegui fechar os olhos

para as inverdades mal arranjadas

sobre a mesa apodrecida.

Tapei sim meus ouvidos,

para não ouvir os gritos e berros

dos loucos que faziam de tudo

para atrapalhar minha concentração.

Me coloquei como o mais fiel dos leitores,

a frente de minhas palavras reorganizadas,

afim de sentir a podridão exalada

por minhas desmedidas sinopses

e ideologias bem calcadas.

Olhei para mim mesmo,

e vi minha literatura se desmanchando

em formas avulsas e ignotas.

Vi meu passado, presente e futuro.

Me vi descrito em letras sobrepostas.

Me vi sozinho,

escrevendo bobagens poéticas

e ensaios sobre a ignorância humana.

Só não vi minh'alma.

Essa está guardada

em alguma pasta amarelada,

dentro de um velho arquivo enferrujado,

no escuro porão

de minhas lembranças perdidas.

Eder Ferreira
Enviado por Eder Ferreira em 26/01/2011
Reeditado em 26/01/2011
Código do texto: T2753074
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