A Melhor Amiga

Ela era tão perfeita antes de tocar-lhe um dia,

Ela era tão doce e de uma leveza, perfeita contradição à minha;

Não me inspirava curiosidades, pois sempre a tive perto de mim,

Não me inspirava devaneios, pois sempre estava a me servir;

Mas sempre foi tão perfeita, em todo tempo, o tempo todo,

Jamais dissonou num instante, mesmo quando alguém lhe feria;

Os anos passaram e sua elegância contínua despertou-me usura,

Sua riqueza insólita despertou-me penúria,

Inclinei-me ao despeito e a ambição desmedida,

Passei a ameaçá-la, a desmoralizá-la, a usurpá-la,

Mesmo sendo minha melhor amiga;

Ainda assim, sua realeza elegante jamais lhe permitiu retrucar-me,

E foi nessa dissonância que descabi-me a desnudá-la,

Tornou-se sofrida, melancólica menina, mas sem deixar de ser bela,

Tornou-se amadurecida e sem rancorosas medidas passou a objetar-me;

Seu corpo, com numerosas feridas,

Seus olhos, com perfeita isopia,

Valeu-se de se sua altiva imponência à despir-me do contra-senso.

E hoje, sua incólume alma com pernas feridas,

Fere desde os menores sem culpa movida, até aos ditos maiores de causa inconformista.

Destrói a tantos em silêncio e jamais permite questões.

Pode ser um desalento, mas reconheço, o que fiz a ti feriu a mim e não foi em vão,

És magnífica e tua ira fere até inocentes,

E quando te vejo como homem

Me vês com os olhos de natureza descontente.

Reconheço que és inabalável e que toma em todo o caso o valor de suas feridas,

Perdoe-me por meus infindos erros, perdoe-me por minha usura,

Mas sei que não te recolherás ao sossego, ao teu silêncio, se a ti não pagar minha dívida...

Mesmo assim:

'Perdão natureza amiga' !!!!

Perdão pelo dissabor

Continuas tão bela, perfeita e tímida

Agora mulher matura à cobrar em seu tempo, em seu dia

A destruição que EU homem te proporcionei na vida...