Quando a chuva passar
Não pare chuva
Preciso de tua água
Preciso de teu barulho para dormir
O mar continua meu amigo
Me abraça, balança, dança comigo
Tenho a água que preciso pra viver
O sal da terra me lava a língua
O imenso azul me deita e me perfuma
Não quero que pare essa chuva
Por favor chuva, não pare ainda
Ainda tenho que escrever algumas tragédias
Minhas letras e força precisa de teu cheiro
Chuva me cubra com tuas gotas, me encha de completo nada
Quero estar plena quando tudo acabar
Meu olhar desconexo disfarça e me entrega
Sou deformidade nesse mundo torto
Nem existe o meu lado direito
Quando me entrego só o esquerdo bate
Preciso ainda de você, chuva não pare
O molhado de tuas feridas me sacia a sede
O enorme balanço de tuas águas me leva ao topo
Quero jogar meus medos fora dentro de tuas agonias
No sarcófago do monte esquecido
Dentro da esfinge o segredo espera
Quem decifra o enigma eterno?
A eterna busca do saber?
Não, chuva, por favor, me espere,
Teu cinza me seduz, quero teu escuro
O sombrio dos trovões, os espasmos de tuas nuvens
Me busca, me enterra
Chuva transparente.