Quando a chuva passar

Não pare chuva

Preciso de tua água

Preciso de teu barulho para dormir

O mar continua meu amigo

Me abraça, balança, dança comigo

Tenho a água que preciso pra viver

O sal da terra me lava a língua

O imenso azul me deita e me perfuma

Não quero que pare essa chuva

Por favor chuva, não pare ainda

Ainda tenho que escrever algumas tragédias

Minhas letras e força precisa de teu cheiro

Chuva me cubra com tuas gotas, me encha de completo nada

Quero estar plena quando tudo acabar

Meu olhar desconexo disfarça e me entrega

Sou deformidade nesse mundo torto

Nem existe o meu lado direito

Quando me entrego só o esquerdo bate

Preciso ainda de você, chuva não pare

O molhado de tuas feridas me sacia a sede

O enorme balanço de tuas águas me leva ao topo

Quero jogar meus medos fora dentro de tuas agonias

No sarcófago do monte esquecido

Dentro da esfinge o segredo espera

Quem decifra o enigma eterno?

A eterna busca do saber?

Não, chuva, por favor, me espere,

Teu cinza me seduz, quero teu escuro

O sombrio dos trovões, os espasmos de tuas nuvens

Me busca, me enterra

Chuva transparente.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 07/01/2011
Código do texto: T2714875