O mel e a montanha
falo com baixa voz
voz que não ouvida
tudo o que dura
necessita compromisso
coração com coração
olho com olhos
olhos de não serem vistos
aprofundamentos
o relógio empurra os ponteiros
ponteiros escravos da direita
direita excessivamente duradoura
reuno surpresas perdidas
cartas extraviadas
contas não pagas
toalhas de mesa rasgadas
dedos martelam a existência
no vidro incolor do metrô
sufocando a garganta da loucura
unhas arranhando a pele lisa
desapontamentos
lençol manchado
calorias não digiridas
refletidas no aço polido
livro de romance inacabado
o fruto chamando na banca da feira
ninguém pode ter certeza de nada
a folha não branca de celulose
produto manufaturado papelpapelão
pergaminho com cheiro de progresso
restos de tinta
grades do absurdo
a africa suando nas savanas
espectros de leões dormindo na grama
baldes cheios de polegares de gorila
a recessão mundial desmontando petroleiros
acentuação
imagens pinturas nas paredes
cinema
mãos enamoradas de desejo
quem sabe quanto quer
quer quanto sabe
a fila do onibus esperando a segunda feira
dinheiro colado com durex
as coisas impossíveis de se ter
o mel e a montanha