O mel e a montanha

falo com baixa voz

voz que não ouvida

tudo o que dura

necessita compromisso

coração com coração

olho com olhos

olhos de não serem vistos

aprofundamentos

o relógio empurra os ponteiros

ponteiros escravos da direita

direita excessivamente duradoura

reuno surpresas perdidas

cartas extraviadas

contas não pagas

toalhas de mesa rasgadas

dedos martelam a existência

no vidro incolor do metrô

sufocando a garganta da loucura

unhas arranhando a pele lisa

desapontamentos

lençol manchado

calorias não digiridas

refletidas no aço polido

livro de romance inacabado

o fruto chamando na banca da feira

ninguém pode ter certeza de nada

a folha não branca de celulose

produto manufaturado papelpapelão

pergaminho com cheiro de progresso

restos de tinta

grades do absurdo

a africa suando nas savanas

espectros de leões dormindo na grama

baldes cheios de polegares de gorila

a recessão mundial desmontando petroleiros

acentuação

imagens pinturas nas paredes

cinema

mãos enamoradas de desejo

quem sabe quanto quer

quer quanto sabe

a fila do onibus esperando a segunda feira

dinheiro colado com durex

as coisas impossíveis de se ter

o mel e a montanha

carlos assis
Enviado por carlos assis em 26/12/2010
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