Sobremesa dos mortos
Num sebo do centro
Jogado numa prateleira baixa
Espremido entre livros espiritas
E outros de autoajuda
Diminuto fragmento literário
Eu era um livro
Fininho quase sem voz
Papel amarelado
Que um dia seria desfeito
Comprado pelas traças
Digirido na escuridão
Mas até o nada tem nojo de mim
Uma tarde você passou
Perfume floral
Brilhei um instante
Para olhos curiosos
Mãos macias tocaram as bordas
Fascinadas com o titulo
Capa desgastada
Mal conservado
Embaixo do titulo
Poemas estava gravado
Folheou as poucas páginas
Não se apegaria por muito tempo
Cobraram alguns tostões
Se livraram de mim
Nem empacotaram
Na rua movimentada
Você cantava baixinho
Eu era seu