Sobremesa dos mortos

Num sebo do centro

Jogado numa prateleira baixa

Espremido entre livros espiritas

E outros de autoajuda

Diminuto fragmento literário

Eu era um livro

Fininho quase sem voz

Papel amarelado

Que um dia seria desfeito

Comprado pelas traças

Digirido na escuridão

Mas até o nada tem nojo de mim

Uma tarde você passou

Perfume floral

Brilhei um instante

Para olhos curiosos

Mãos macias tocaram as bordas

Fascinadas com o titulo

Capa desgastada

Mal conservado

Embaixo do titulo

Poemas estava gravado

Folheou as poucas páginas

Não se apegaria por muito tempo

Cobraram alguns tostões

Se livraram de mim

Nem empacotaram

Na rua movimentada

Você cantava baixinho

Eu era seu

carlos assis
Enviado por carlos assis em 26/12/2010
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