Eternas ondas
Ó eternas ondas!
Poque quebras o sol dessa maneira?
Este astro tão silente e descuidado
Que se perde no horizonte
e dorme calmo.
Ó mar revolto!
Porque estás assim tão abalado?
Será o meu veneno, o meu descaso,
quando estouro com teus mangues
E os caranguejos?
Águas turvas!
Eu queria de vós a claridade,
Para ver, em vosso ventre
A doce vida,
No sagrado santuário do teu seio
Os seres vivos
A bailar, a sobejar contentamentos.
Poderiam ter a têz de águas calmas,
Mas as mágoas do meu peito
Vos assanham,
E, Abraçadas com o vento,
Em tempestade
Me condenam a sofrer o desamparo.
A vida não é só de águas limpas;
Vejam, entendam o não pensar
Do ser pensante,
Que se joga com o lixo nos esgotos
Quando atira em tua cara
Os escrementos.
Depois dorme como a paz
Dos travesseiros;
Na manhã, lava o seu rosto
Em vosso sangue,
Esperando mais saúde em novos dias,
Esperando que o universo
Não se zangue.