NOITE MORTA
Vou em devaneios
pela noite morta a fora
não me metem arreios,
senão logo eu vou-me embora,
para fora dos seus seios.
Seios da madrugada
egoísticamente devoram
os zumbis em debandada
que na noite choram.
Ouço o som da calada
meninos jogados pelas ruas
não dormem de madrugada
apenas ficam vendo as luas.
Vêm luas, duas ou três,
aguardam a tépida sopa esmolada
um cobertor por sua vez,
na noite escura e gelada.
Nasce a noite e morre agora,
se nela eu não for dormir,
vejo os seus filhos lá fora,
os meus olhos vão pungir.
Quisera a noite eu não ver,
senão apenas o luar
e uma estrela renascer
cada uma com o seu par.
Tem garbos, sardos e sapos,
as noites infindas crianças
alcóolicos, bucólicos e cratos,
sapatos e meias vinganças.
A tez morena e parda
transtornos dos meus devaneios,
nos tempos meus de farda
nunca vivi tantos receios.
Adeus a noite morta,
bem vindo a luz do meu sol
ao acordar me conforta
como na tempestade o farol.
(YEHORAM)