CARNES
Faz-me a alma amplo corte, qual me coze esse corpo,
Onde o insano em lamento depura-me em sofrimento;
Mais do que é certo, me dependuro neste vivo-morto,
Sobrando-me ao encher uma razão sem merecimento.
Vermelha que fico em vergonha nesta exposura,
Ao revelar-me tão sanguinolenta em vis matérias.
Alimento-me de mim nesta eterna e crua loucura,
Doando-me vida, nas quentes curvas das artérias.
Percorro os caminhos que antes eu não quisera conhecer...
O pedaço de mãe que ficou em meu umbigo, já apodreceu;
Um pai... Onde nas esquinas, o jorro do amor fez escorrer...
O peso que eu agora sou, em fatiadas dores me esqueceu.