Banquete dos Canibais
Queriam que eu fosse lacônico
Ou um poliglota mudo.
Porque não sou,
Cortaram o meu corpo em cubos
E colocaram numa caixa de isopor:
Passei três dias no gelo;
Sete dias no tempero;
Adicionaram sal, pimenta
E mais os pingos de baba
Daquela velha nojenta,
Que caiam sobre mim...
Os meus olhos,
Entre os pedaços se encontraram,
Choraram e se perguntaram:
-O que fiz para ser assim?!
Salgado e apimentado,
Eu não sentia mais dor...
O que sobrou do meu sangue,
A majestade quem tomou...
Alegara que morri num bang bang;
Mas ninguém nunca provou...
Tentaram me cozinhar... Mas deu azar,
O botijão explodiu...
Não sei o que vão falar,
Mas pra você isso é sombrio?
-Um anjo veio me salvar...
E os meus pedaços, simultaneamente,
Começaram se juntar...
Degustaram do meu sangue,
Mas do meu corpo não conseguiram provar!
Adriano Soares (Dom Soares)