Banquete dos Canibais

Queriam que eu fosse lacônico

Ou um poliglota mudo.

Porque não sou,

Cortaram o meu corpo em cubos

E colocaram numa caixa de isopor:

Passei três dias no gelo;

Sete dias no tempero;

Adicionaram sal, pimenta

E mais os pingos de baba

Daquela velha nojenta,

Que caiam sobre mim...

Os meus olhos,

Entre os pedaços se encontraram,

Choraram e se perguntaram:

-O que fiz para ser assim?!

Salgado e apimentado,

Eu não sentia mais dor...

O que sobrou do meu sangue,

A majestade quem tomou...

Alegara que morri num bang bang;

Mas ninguém nunca provou...

Tentaram me cozinhar... Mas deu azar,

O botijão explodiu...

Não sei o que vão falar,

Mas pra você isso é sombrio?

-Um anjo veio me salvar...

E os meus pedaços, simultaneamente,

Começaram se juntar...

Degustaram do meu sangue,

Mas do meu corpo não conseguiram provar!

Adriano Soares (Dom Soares)

Adriano Soares Bardo
Enviado por Adriano Soares Bardo em 21/11/2010
Reeditado em 21/11/2010
Código do texto: T2629015
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