Sonho

Sonhava que a luz não existia

e as cores eram cores por si só.

Podia tocá-las! E elas, densas,

Se desfaziam como algodão doce

lentamente lambido,

lentamente salivado.

Nesse sonho o azul royal

– antes tão aristocrata –

era liberto para amar

todos os vermelhos dos cardeais.

E a Inquisição não se importava.

Os seios não eram rosas, os seios;

eram girassóis dourados.

Cansados da delicadeza do veludo,

percorreram outros campos.

Mais ainda floridos, os seios.

Os sons tomaram formas

E meus olhos se alegraram:

como o Gato, o Dó maior me sorria.

Era vermelho intenso o Si menor

e voava feito águia.

E quando Morpheus resolveu me deixar

espantado pela chegada de Aurora

restou um cobertor no chão

e um rosto no espelho que eu quase desconhecia.

Voltei para a cama. A vida podia esperar.