A CIDADE COSMICA
Esgotos,
Veias que cortam a cidade
Por onde escorre mal cheiroso
O sangue da vil sociedade.
Em sua podridão
Alimenta a metrópole.
E este monstro de concreto
Avoluma-se, se agiganta,
Consome a relva e as florestas.
Deflora os bosques
Com suas ruas penetrantes,
Sangrando virgens recantos
E não para.
Em incansável delírio
Parte em busca de novas donzelas.
E as dilacera,
Ejaculando argamassa, gente,
Postes, carros,
Lixo e morte.
Fecunda a mata que aborta
Prédios, aviões, quartéis, prisões.
E seu verde defumado nas fornalhas
Incorpora-se ao monstro,
Entra em nossas narinas,
Arde nos olhos,
Corrói pulmões e mata.
E as matas não renascem,
Simplesmente sucumbem.
O homem cultiva suas cidades,
Que como pragas se alastram,
Correm pelo mundo e o ocupam.
E a terra,
Transformada num enorme tumor
Explode no espaço,
Lançando seus dejetos pelos astros.
E a cidade povoará o cosmo.
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