O MONSTRO DA CRIAÇÃO

Crio
Porque não domo
O monstro que é meu íntimo,
Crio
Porque me dói o surgimento
De algum perigo
Algum tipo de suicídio
Algum estereótipo impreciso
Que só às vezes,  se afasta
Mas sempre se deita comigo...

Crio
Porque me soma
Célula que se multiplica
Feito um sinal dilacerado
Rompendo, rompendo, rompendo
Doendo tal qual uma ferida
Que aberta, nunca se estanca
Só somatiza!

Crio
Porque esse monstro me olha
Com aquele perfil esquisito
De quem sinaliza
Torpor, urgência, demência
Em algum ponto, não menos bonito
Me atrai, me abstrai, me escraviza
Num rompante sem paz
Arrancando verbos, agonias e sílabas.

Crio
Porque não fujo
Do necessário susto que é
Todo poema escorrido
Pelo prazer exercido, inventivo...

Oh monstro que me apavora
Me atenta o sentido, me suga o juízo
Nem por isso, tenho ojeriza
Oh monstro de tantas caras
Que me devora em preces e taras
Que estranhamente me excita
Feito um bicho bendito!!!

Dedico esse poema aos poetas, que se deitam com esse 'monstro' e lutam e sangram em gozosos exercícios, depois exaustos e vencidos, adormecem felizes,  feito amantes desconhecidos!

Cristina Jordano
Enviado por Cristina Jordano em 31/10/2010
Reeditado em 01/11/2010
Código do texto: T2589213
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